domingo, 9 de agosto de 2009

O privilégio de ser um privilegiado na terra dos privilegiados

Posted in by Augusto Paim | Edit
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Costuma-se dizer que Porto Alegre é uma cidade cheia de vantagens quando se fala em cultura. Que, se se morasse na capital, ir-se-ia aproveitar tudo que acontece. Pois imagine que um grupo de circo-teatro premiadíssimo no mundo inteiro está passando por aqui, o ingresso custa 5 reais e poucos porto-alegrenses foram ver.

A divulgação, claro, foi humilde. Fiquei sabendo só esta semana, pelo mailing cultural do Sesc. Falava a respeito de espetáculos que ocorreriam no finde. Como ando com interesse especial em tudo que é circense, decidi ir. Na sexta-feira, fomos eu, minha namorada e mais umas 20 pessoas, suficientes para completar apenas 3 filas de cadeiras do pequeno teatro do Sesc na rua Alberto Bins.

O grupo chama-se Udi Grudi e, o espetáculo, "Ovo". Na descrição do site: "'Você tem fome de que?' - as três personagens de OVO têm fome de tudo. Vivem às margens de tudo, se alimentam e se vestem de restos, do lixo de onde tiram sustento e alento. Seria trágico não fosse cômico, mas os três palhaços do Udi Grudi conseguem dar a volta por cima e diante de nossos olhos o lixo ganha vida se transforma em seres vivos, em música, em poesia... mas a fome é grande." O cenário dos espetáculos é feito com material vindo do lixo e é incrível a criatividade e a funcionalidade com que cada elemento é usado. Considero uma das melhores peças que já assisti. Mistura de musical, circo, teatro e técnicas de clown, o grupo já está há 25 anos na estrada. Rodaram o mundo, ganhando prêmios, lotando teatros e acumulando elogios da crítica.

Gostamos tanto que, eu, minha namorada e mais as 20 pessoas (poucos rostos mudaram), voltamos ontem ao teatro do Sesc para assistir ao espetáculo "O cano". É difícil decidir qual é o melhor. Fato é que a apoteose da última é insuperável: uma estrutura com canos é montada durante a peça, sem nos darmos conta, e no fim começa a escorrer água por furos estratégicos. Os pingos caem no chão em tempos diferentes, compondo uma percussão simulando chuva. No meio do palco, uma bacia aquecida com tochas gira e faz metais se baterem, criando uma melodia executada por leis da física.

O grupo foi aplaudido de pé. Eles explicaram que vieram para Porto Alegre com um pacote fechado de apresentação para escolas. Em função do adiamento da volta às aulas por causa dos problemas da Gripe A, os agendamentos foram cancelados. Agora chove em Porto Alegre de um jeito que parece que não vai parar nunca. Tudo isso, somado à má divulgação, fez com que Udi Grudi se apresentasse num teatro pequeno e vazio.

Mas não precisa ser assim. Ainda é possível assistir a "O cano" até a próxima quarta, às 16h. Quem se animar a sair com essa chuva, pode ter certeza que será um privilegiado!

2 Comments


  1. Duda says:

    Baita dica, se estiver em Porto Alegre vou certo!

    11 de agosto de 2009 às 00:35

  2. Andressa Sgaria says:

    bah...fico muito de cara com fatos desse tipo, espetáculos reconhecidos em todo o mundo e aqui os nativos passam batidos, recebem calorosos, porém poucos aplausos.

    com certeza eu me incluo no grupo que diz "se eu morasse em porto eu iria..quando eu morar em porto.."

    bom, quando eu morar em porto, espero estar atenta e recebendo as tuas dicas Augusto!! muito bom o post :)

    12 de agosto de 2009 às 08:38